O que te define? Um balanço sobre 3 anos em Hong Kong

Uma pergunta rápida: o que te define?

Seu país, sua família, sua cidade, seu time de futebol? O bairro onde você mora, o carro que você dirige, onde você passa seu sábado a noite? Ou seria o seu trabalho, sua universidade, seus títulos, seu salário?

Pois é, não é uma resposta simples... e depois de morar tanto tempo fora, fica ainda mais difícil responder a esse dilema.  Essa semana vou completar 3 anos morando em Hong Kong. Pode parecer chato e muito filosófico, mas a data me fez pensar nas coisas que mais mudaram (ou não) nos últimos 36 meses e como eu me vejo daqui pra frente.

Como eu já falei milhares de vezes, Hong Kong é uma cidade muito internacional. Tem de tudo para agradar a todos, e praticamente todo mundo que você encontra pode ser turista ou gente como eu, tentando ganhar a vida e novas experiências nesse "gigante asiático". Aqui você encontra pessoas de todos os países imagináveis: desde americanos ou canadenses que largam o conforto de seus países para viver uma vida mais aventureira (e fazendo bicos como professores de inglês), até indianos, paquistaneses e filipinos que alcançaram os postos mais altos nas carreiras corporativas. 

No meio de toda essa gente estão os latinos, que ainda são um grupo pequeno dentre a enorme quantidade de estrangeiros que existe por aqui. O mais engraçado é que eu percebi que a maioria das pessoas que eu conheço aqui em Hong Kong assumem que eu faço parte de um grupo de brasileiros, que se une para, sei lá, sambar, fazer brigadeiro, comer churrasco e simplesmente serem "brasileiros": sorridentes, chamativos, malandros, sensuais...

Essa eu sempre escuto: "Nossa Julia, mas você é tão... branca para ser brasileira!"

...Alto lá, minha gente! Se você lê esse blog e me conhece, sabe que eu passo longe desses adjetivos, hahaha! E se você não me conhece, bom, agora você está sabendo que eu não sou a mulata carioca com olhos cor de mel que povoa os sonhos dos estrangeiros sobre o Brasil. Por alguma razão desconhecida (provavelmente por causa da AIESEC), acabei não me envolvendo tanto com o grupo de brasileiros daqui. Com tanta gente e tantas culturas novas para explorar, minha prioridade nos últimos 3 anos acabou não sendo ater-me fortemente aos elementos brasileiros existentes por aqui, ou buscar desesperadamente alguém para poder desenferrujar o português.

Isso me deixou pensando... poxa, será que eu estou "perdendo" minha identidade brasileira? Será que 3 anos é tempo suficiente para que eu começe a me ver de outra maneira? Talvez uma mestranda em Política Economica Internacional? Namorada de um chinês (não tão chinês assim)? Consultora sênior de uma empresa xyz?...

"Se em teu formoso céu risonho e límpido..."

Depois de alguns breves dias de reflexão eu cheguei à conclusão que não. Apesar de não ser um exemplo perfeito do estereótipos que existem sobre o Brasil, eu posso dizer com certeza que o que me mais me define nessa jornada tão longínqua em Hong Kong é o privilégio de representar meu amado país. Para muitos de meus amigos e conhecidos, eu sempre serei a "amiga brasileira" e provavelmente o mais perto do BraZil que eles vão chegar. Então o que me resta é simplesmente ser eu mesma e passar uma imagem verdadeira sobre as 'belezas e durezas' das terras tupiniquins.

Enfim, eu acho que é normal para quem vive fora do Brasil por certo tempo, que chega uma hora na qual você fica com medo de pouco a pouco perder ou esquecer os hábitos e referências culturais que foram uma parte tão grande de sua vida em um passado não tão distante. Eu percebi que apesar do tempo, não é o meu mestrado, meu trabalho ou os 3 anos que eu passei aqui que me definem. Embora o futuro ainda seja incerto, e eu não saiba qual será meu próximo destino, continuarei sempre sendo uma brasileira muito orgulhosa de meu país tão diverso e especial!

Brazil: ame-o e se possível, melhore-o!

PS: o post de hoje não tem nenhuma relação com os protestos que estão acontecendo no Brasil essa semana. Esse assunto é tema para um futuro post...