O que está acontecendo em Hong Kong?
Olá amigos do blog! Sim, eu ainda estou viva, e sigo por aqui. Depois de um ano muito turbulento (e qual não é?) finalmente tive um tempinho para contar para vocês sobre o que está acontecendo aqui em Hong Kong. Quem diria que a pacata e organizada Hong Kong veria seus dias de Brasil, com protestos, violência e desconfiança total em relação ao governo e à polícia?
Não vou entrar nos detalhes políticos do que está acontecendo, já que isso pode ser encontrado facilmente em qualquer jornal ou site de notícias. Além disso, nunca se sabe se o que eu estou escrevendo pode ser usado contra mim - a China está de olho! Só quero mostrar como essa situação está afetando a vida dos moradores daqui e quais são as preocupações que as pessoas tem para o futuro.
1. A cidade não está pegando fogo (ainda)
Pra começar, os protestos não estão causando um caos generalizado, como provavelmente mostram na televisão. Na TV eles mostram toda a confusão, fumaça, tiros de bala de borracha, sangue, gás lacrimogênio pra todo lado, etc. Amigos que moram fora de Hong Kong me disseram que a impressão que eles tem é que está tendo protestos em todos os cantos da cidade, 24 horas por dia.
Não é bem assim. Os protestos, na grande maioria, estão acontecendo só durante os finais de semana, e nas áreas mais centrais de Hong Kong, ou em áreas residenciais. O povo aqui é tão organizado, que eles até divulgam a agenda de protestos com antecedência! Assim fica fácil se planejar caso as estações de metrô estejam fechadas e saber onde estão acontecendo as manifestações.
2. Protestar é crime?
Também não. Mas em Hong Kong, como em outras cidades ao redor do mundo, passeatas com mais de 30 pessoas, ou agrupamentos com mais de 50 devem ser notificados com antecedência às autoridades. Até pouco tempo atrás isso não era um problema, mas com a multiplicação das manifestações, instabilidade e hostilidade contra o governo, pouquíssimos eventos publicos estão sendo aprovados.
Claro que isso não impede os manifestantes de tomarem as ruas, já que eles sabem que a polícia não tem como barrar e prender milhares de pessoas. Porém, isso abre um precedente para que a polícia possa abordar qualquer pessoa que esteja perto das manifestações ou com atitudes consideradas "suspeitas." Desse jeito, manifestantes, jovens, idosos e outros que infelizmente só foram pegos no lugar errado na hora errada acabam indo pro xadrez. Se participar de eventos públicos sem autorização é ilegal, logo todos os que apóiam os protestos e saem às ruas podem ser considerados criminosos, e aí é que começam os problemas.
3. Caem as máscaras
Ainda em relação ao ponto anterior: uma coisa muito interessante que eu tenho observado aqui é como os hongkoneses mostram o lado criativo deles na hora de protestar. Nada de gritaria, porrada e xingamentos - aqui eles protestam com pequenos gestos, como a apliçação de post-its em lugares públicos, que já ficaram conhecidos como 'Lennon walls' fazendo alusão à famosa Lennon Wall que existe em Praga, na República Checa.
Na hora de protestar, eles são bem práticos também: roupas pretas, máscaras e guarda chuvas para ajudar a proteger a identidade dos manifestantes e também contra o gás lacrimogênio. Isso fez com que o governo banisse o uso de máscaras em passeatas e eventos públicos, alegando que os protestantes se tornam mais extremistas e violentos quando eles usam máscaras e não podem ser identificados.
Isso deixou a população ainda mais revoltada, por considerarem que as pessoas tem o direito de proteger suas indentidades e protestar a mesmo tempo. Além disso, a proibição de máscaras se extende apenas aos protestantes, enquanto que a polícia segue livre para usar máscaras enquanto abusam de sua autoridade.
4. E como isso afeta o seu dia a dia?
Não muito, para falar a verdade, mas mesmo assim é importante ter cuidado. Eu moro perto de uma estação de polícia e de uma das principais avenidas da cidade; no começo dos protestos a gente até saía pra ver o que está acontecendo. Mas, com a escalada de violência o melhor mesmo é ficar em casa quando houverem manifestações por perto, e ficar longe da polícia!
O whatsapp é ótimo para compartilhar informações sobre o que está acontecendo e aonde. O app do metrô daqui, o MTR, também é sempre atualizado caso alguma estação esteja fechada por causa dos protestos. Nas últimas semanas infelizmente o MTR está fechando mais cedo, o que acaba gerando transtornos nos planos de muita gente.
5. Afinal, quando isso vai terminar?
Ningúem sabe ainda. O governo está bem pessimista, afirmando que os protestos estão causando uma queda vertiginosa na economia local e no turismo. Medidas já estão sendo tomadas para ajudar os setores afetados, e até o Li Ka Shing, o homem mais rico de Hong Kong, e um dos mais ricos do mundo, prometeu um pacote de 1 bilhão de dólares de Hong Kong, equivalente a 500 milhões de reais, para ajudar negócios afetados pela crise política na cidade.
Essa semana os protestos começaram a ficar mais intensos novamente, por causa da morte de um manifestante, um estudante de uma universidade local que caiu da janela de um estacionamento sob circunstâncias misteriosas. Esse fato, somado a atos violentos cometidos pela polícia, está levando milhares de pessoas às ruas por toda Hong Kong.
Eu admiro o fato de que existe um certo consenso entre a população local sobre o que está errado. Para uma cidade que vive e defende o estado de direito, esse nível de violência, que em grande parte é causada pela própria polícia em nome da "manutenção da ordem," só mostra que Hong Kong realmente está caminhando para um futuro onde ordem e obediência valem mais do que justiça e liberdade de expressão.
Vamos ver o que vai acontecer. Para mim, esse é o começo do fim de Hong Kong como a conhecemos...
Não vou entrar nos detalhes políticos do que está acontecendo, já que isso pode ser encontrado facilmente em qualquer jornal ou site de notícias. Além disso, nunca se sabe se o que eu estou escrevendo pode ser usado contra mim - a China está de olho! Só quero mostrar como essa situação está afetando a vida dos moradores daqui e quais são as preocupações que as pessoas tem para o futuro.
1. A cidade não está pegando fogo (ainda)
Pra começar, os protestos não estão causando um caos generalizado, como provavelmente mostram na televisão. Na TV eles mostram toda a confusão, fumaça, tiros de bala de borracha, sangue, gás lacrimogênio pra todo lado, etc. Amigos que moram fora de Hong Kong me disseram que a impressão que eles tem é que está tendo protestos em todos os cantos da cidade, 24 horas por dia.
Nathan Road, bloqueada e coberta de grafiti contra o governo. |
Não é bem assim. Os protestos, na grande maioria, estão acontecendo só durante os finais de semana, e nas áreas mais centrais de Hong Kong, ou em áreas residenciais. O povo aqui é tão organizado, que eles até divulgam a agenda de protestos com antecedência! Assim fica fácil se planejar caso as estações de metrô estejam fechadas e saber onde estão acontecendo as manifestações.
2. Protestar é crime?
Também não. Mas em Hong Kong, como em outras cidades ao redor do mundo, passeatas com mais de 30 pessoas, ou agrupamentos com mais de 50 devem ser notificados com antecedência às autoridades. Até pouco tempo atrás isso não era um problema, mas com a multiplicação das manifestações, instabilidade e hostilidade contra o governo, pouquíssimos eventos publicos estão sendo aprovados.
Claro que isso não impede os manifestantes de tomarem as ruas, já que eles sabem que a polícia não tem como barrar e prender milhares de pessoas. Porém, isso abre um precedente para que a polícia possa abordar qualquer pessoa que esteja perto das manifestações ou com atitudes consideradas "suspeitas." Desse jeito, manifestantes, jovens, idosos e outros que infelizmente só foram pegos no lugar errado na hora errada acabam indo pro xadrez. Se participar de eventos públicos sem autorização é ilegal, logo todos os que apóiam os protestos e saem às ruas podem ser considerados criminosos, e aí é que começam os problemas.
3. Caem as máscaras
Ainda em relação ao ponto anterior: uma coisa muito interessante que eu tenho observado aqui é como os hongkoneses mostram o lado criativo deles na hora de protestar. Nada de gritaria, porrada e xingamentos - aqui eles protestam com pequenos gestos, como a apliçação de post-its em lugares públicos, que já ficaram conhecidos como 'Lennon walls' fazendo alusão à famosa Lennon Wall que existe em Praga, na República Checa.
Na hora de protestar, eles são bem práticos também: roupas pretas, máscaras e guarda chuvas para ajudar a proteger a identidade dos manifestantes e também contra o gás lacrimogênio. Isso fez com que o governo banisse o uso de máscaras em passeatas e eventos públicos, alegando que os protestantes se tornam mais extremistas e violentos quando eles usam máscaras e não podem ser identificados.
Isso deixou a população ainda mais revoltada, por considerarem que as pessoas tem o direito de proteger suas indentidades e protestar a mesmo tempo. Além disso, a proibição de máscaras se extende apenas aos protestantes, enquanto que a polícia segue livre para usar máscaras enquanto abusam de sua autoridade.
4. E como isso afeta o seu dia a dia?
Não muito, para falar a verdade, mas mesmo assim é importante ter cuidado. Eu moro perto de uma estação de polícia e de uma das principais avenidas da cidade; no começo dos protestos a gente até saía pra ver o que está acontecendo. Mas, com a escalada de violência o melhor mesmo é ficar em casa quando houverem manifestações por perto, e ficar longe da polícia!
O whatsapp é ótimo para compartilhar informações sobre o que está acontecendo e aonde. O app do metrô daqui, o MTR, também é sempre atualizado caso alguma estação esteja fechada por causa dos protestos. Nas últimas semanas infelizmente o MTR está fechando mais cedo, o que acaba gerando transtornos nos planos de muita gente.
5. Afinal, quando isso vai terminar?
Ningúem sabe ainda. O governo está bem pessimista, afirmando que os protestos estão causando uma queda vertiginosa na economia local e no turismo. Medidas já estão sendo tomadas para ajudar os setores afetados, e até o Li Ka Shing, o homem mais rico de Hong Kong, e um dos mais ricos do mundo, prometeu um pacote de 1 bilhão de dólares de Hong Kong, equivalente a 500 milhões de reais, para ajudar negócios afetados pela crise política na cidade.
Um dos bairros de Hong Kong depois dos protestos no começo dessa semana. |
Essa semana os protestos começaram a ficar mais intensos novamente, por causa da morte de um manifestante, um estudante de uma universidade local que caiu da janela de um estacionamento sob circunstâncias misteriosas. Esse fato, somado a atos violentos cometidos pela polícia, está levando milhares de pessoas às ruas por toda Hong Kong.
Eu admiro o fato de que existe um certo consenso entre a população local sobre o que está errado. Para uma cidade que vive e defende o estado de direito, esse nível de violência, que em grande parte é causada pela própria polícia em nome da "manutenção da ordem," só mostra que Hong Kong realmente está caminhando para um futuro onde ordem e obediência valem mais do que justiça e liberdade de expressão.
Vamos ver o que vai acontecer. Para mim, esse é o começo do fim de Hong Kong como a conhecemos...
"Para mim, esse é o começo do fim de Hong Kong como a conhecemos".... de acuerdo con tigo. Sin embargo soy optimista y talvez el futuro sea mejor, tanta revuelta solo va a terminar con un acuerdo social y la mejora de condiciones para muchas personas. Esto es un juego de largo plazo....
ResponderExcluirPor supuesto que sí, Pipe! Creo que las elecciones fueron un buen ejemplo en como la gente en HK está mas interesada en política y en el bienestar de la ciudad.
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